Este espaço é desaconselhável a menores de 21 anos,
porque a história de nossos políticos
pode causar deficiência moral irreversível.

É a vida de quengas disfarçadas de homens públicos; oportunistas que se aproveitam de tudo e roubam sem punição. Uma gente miúda com pose de autoridade respeitável, que engana o povo e dele debocha; vende a consciência e o respeito por si próprios em troca de dinheiro sujo. A maioria só não vende o corpo porque este, além de apodrecido, tem mais de trinta anos... não de idade, mas de vida pública.


quinta-feira, 20 de junho de 2013

“O POVO UNIDO PROTESTA SEM PARTIDO”

O inverno da nossa esperança
– Cora Ronai -
O Brasil tem uma dívida de gratidão com o governador Geraldo Alckmin. Se ele não tivesse soltado a tropa de choque em cima dos manifestantes que protestavam em São Paulo contra o aumento do preço das passagens, é possível que o maior movimento social do país jamais tivesse chegado às ruas. A onda de indignação começou a se formar assim que as primeiras fotos e vídeos das agressões da polícia circularam pela internet; ela se transformou em tsunami quando, horas depois, o governador veio a público defender a polícia e atacar os manifestantes. Como assim? Quer dizer que o cidadão, que paga a conta, ainda tem que aguentar todos os desaforos do governo caladinho, fechado em casa?! É isso?! 
Para quem estava nas redes sociais, o que aconteceu a partir daí rolou como um filminho. Subitamente, todos os outros assuntos retrocederam, como fez a maré na Ásia, e as timelines foram tomadas pela insatisfação geral. No sábado, o Twitter e o Facebook mal aguentavam o peso da comoção. Algo de grande e de inesperado estava se formando. No dia seguinte, tentei definir o que estava sentindo:
” Estou maravilhada com o que está acontecendo no país. Há quem se queixe que a população não se manifestou em relação ao mensalão, à PEC 37, à roubalheira em geral e à da Copa em particular, e que o preço da passagem seria uma causa “menor”; mas a gente nunca sabe qual é a gota d’água, qual é o estopim que faz com que todo mundo tenha vontade de gritar junto. O que no começo era só um protesto contra 20 centavos virou o protesto que todos queríamos, contra todas as desfeitas que nos vêm sendo feitas de todos os lados, por todos os partidos, por todos os poderes. 
É um protesto que, pelo menos à primeira vista, “pegou”. 
Ao longo dos últimos anos, fui chamada para N manifestações diferentes, muitas das quais coincidiam com a minha opinião. Nenhuma, porém, tinha jeito de dar liga. Faltava sempre alguma coisa que não sei definir — e que talvez fosse até a polícia na rua, quem sabe? Faltava a empolgação geral, o arrepio na espinha, a massa crítica. 
Agora é diferente. 
Pela primeira vez em muitos anos — mais especificamente, desde o impeachment do Collor — dá para sentir uma tensão no ar, um alento, o brilho de uma esperança coletiva que não discrimina sexo, idade, classe social. 
As manifestações da semana que vem podem não dar em nada. A ideia dos panos brancos nas janelas pode — sem trocadilho — passar em branco. É possível até que o momento de indignação geral já tenha passado quando a quinta-feira chegar e for a nossa vez de, aqui no Rio, ir às ruas (eu estava mal informada, não sabia que já tínhamos protesto marcado para a segunda-feira). Penso muito nisso, para não dar corda demais às minhas expectativas e não me amargurar se nada acontecer. 
Mas também pode ser que estejamos diante de um grande momento. Que não será apenas um protesto contra o aumento das passagens, mas uma formidável manifestação de cidadania — algo de que nos orgulharemos no futuro, e que contaremos, cheios de saudades, aos nossos filhos e netos.”
Até agora, 2h12 de quarta-feira, não tenho motivo para amargura; ao contrário, estou feliz, orgulhosa do meu país e da minha cidade. Quem pede foco aos manifestantes ainda não entendeu que, antes de qualquer coisa, este é um movimento pela cidadania, um movimento que diz ao poder canalha que temos que ele não nos representa.
 “O povo unido protesta sem partido”, gritava a moçada em Porto Alegre. Eles me representam.
 ***
A hashtag #ForaDilma disparou para o primeiro lugar nos TTs (trending topics) do Twitter na terça-feira à noite, logo após a burocrática e irrelevante declaração da presidente sobre as manifestações. Não tenho nenhuma simpatia por ela, muito antes pelo contrário, mas acho que definitivamente não é por aí — mesmo porque as alternativas para substituí-la, ao menos no momento, são Michel Temer e Renan Calheiros. 
A meu ver, as manifestações não são contra A, B ou C, mas contra a classe política como um todo. Cansamos de ver o nosso dinheiro indo para o lixo, cansamos de ver Brasília transformada num balcão de negócios, cansamos da roubalheira e do deboche dos nossos governantes. Todos eles. De todos os partidos, de todos os poderes e de todas as esferas. 
“O povo acordou,
o povo decidiu,
ou para a roubalheira ou paramos o Brasil”,
entoavam os manifestantes em Juiz de Fora.
Eles me representam. 
***
Justo no meio disso tudo, a presidente — a “presidenta”, a chefona, a manda-chuva, a über-faxineira, a mulher que só fala aos gritos com os seus comandados — deixou Brasília para ir a uma consulta urgente em São Paulo… com o seu marqueteiro! 
Putz. Essa não entendeu nada mesmo.
E não,
ela não me representa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Opinião dos leitores